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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

Surpreendidos por um abraço

Sexta-feira, 8 de Janeiro de 2016

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 02 de 14 de Janeiro de 2016  

O ano santo da misericórdia recorda-nos que «Deus ama sempre primeiro», sem condições, e acolhe-nos tal como somos para nos abraçar e perdoar como um pai. Foi sobretudo a quantos se reconhecem pecadores que Francisco recordou a certeza do amor de Deus.

«O apóstolo João — explicou o Papa — continua a falar aos primeiros cristãos sobre os dois mandamentos que Jesus nos ensinou: amar a Deus e amar ao próximo». De facto, lê-se no trecho da sua primeira carta (4, 7-10) proposto pela liturgia: «Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor é de Deus». E «esta palavra “amor” — observou Francisco — é usada muitas vezes e quando se usa, não se sabe, o que significa exactamente». Por conseguinte, o que é o amor? Por vezes, disse o Pontífice, «pensamos no amor das telenovelas: não, aquele não parece ser amor. O amor pode parecer um entusiasmo por uma pessoa e depois esmorece».

Portanto, a verdadeira questão é: «de onde vem o verdadeiro amor?». Escreve João: «Todo aquele que ama foi gerado por Deus, porque Deus é amor». O apóstolo não diz «cada amor é Deus». Mas sim: «Deus é amor». E, continua João, «Deus amou-nos a tal ponto que enviou ao mundo o seu Filho unigénito, para que tivéssemos a vida por meio dele». Por isso, afirmou Francisco, eis «Deus que dá a sua vida em Jesus, para nos conceder a vida». Por conseguinte, continuou, «o amor é bom, é bom amar e no céu haverá unicamente o amor, a caridade: é Paulo quem o diz». E se o amor «é bom, fortalece-se e cresce na doação da própria vida: cresce no doar-se a si mesmo aos outros».

Em seguida, Francisco releu outro trecho da carta de João: «Nisto consiste o amor: não fomos nós que amámos Deus, mas foi ele que nos amou». E frisou que «Deus nos amou primeiro; ele deu-nos a vida por amor, deu a vida e o seu Filho por amor». Por isso «quando encontramos Deus, há sempre uma surpresa: é ele que nos espera primeiro; é ele que nos encontra».

Referindo-se a um trecho litúrgico tirado do Evangelho de Marcos (6, 34-44), que narra o episódio da multiplicação dos pães, o Papa convidou a olhar para Jesus. «Aquelas pessoas — explicou — seguiam-no para o ouvir, porque falava como quem tem autoridade, não como os escribas». Mas «ele olhava para aquelas pessoas e seguia em frente. Precisamente porque amava, diz o Evangelho, “compadeceu-se”, o que não é como ter piedade». A palavra certa é precisamente “compaixão: o amor leva-o a “sofrer com” elas, a envolver-se na vida das pessoas». E «o Senhor está sempre ali, amando primeiro: ele espera por nós, ele é a surpresa».

É precisamente o que acontece, recordou o Papa, com «André quando vai ter com Pedro e lhe diz: “Encontramos o Messias, vem!”. Pedro vai e Jesus olha para ele e diz-lhe: “Tu és Simão? Serás Pedro”. Esperava por ele com uma missão. Amou-o primeiro».

O mesmo acontece «quando Zaqueu, que era pequeno, sobe a uma árvore para poder ver melhor Jesus». O qual «passa, ergue os olhos e diz: “Desce Zaqueu, quero jantar em tua casa”. E Zaqueu, que queria encontrar Jesus, apercebeu-se que Jesus esperava por ele».

E Francisco recordou ainda a história de Natanael que «vai ver aquele do qual dizem que é messias, um pouco céptico. A ele Jesus diz: “Eu vi-te debaixo da figueira”». Portanto, «Deus ama sempre primeiro». Recorda isto também a parábola do filho pródigo: «Quando o filho, que tinha gasto todo o dinheiro da herança do pai numa vida de vícios, volta para casa, apercebe-se que o pai esperava por ele. Deus espera-nos sempre primeiro. Antes de nós, sempre. E quando o outro filho não quer participar na festa, porque não compreende a atitude do pai, o pai vai procurá-lo. E o mesmo faz Deus connosco: ama-nos primeiro, sempre».

Assim, relançou o Papa, «podemos ver no Evangelho como Deus ama: quando temos alguma coisa no coração e queremos pedir perdão ao Senhor, é ele que nos espera para conceder o perdão».

Este ano da misericórdia, afirmou Francisco «é um pouco também isto: que saibamos que o Senhor está à nossa espera, de cada um de nós». E espera-nos «para nos abraçar, nada mais, para dizer: “Filho, filha, amo-te. Deixei que crucificassem o meu Filho por ti; este é o preço do meu amor; é esta a prenda de amor”».

O Papa sugeriu que se pense sempre nesta verdade: «O Senhor espera por mim, o Senhor quer que eu abra a porta do meu coração, porque está ali à minha espera para entrar». Sem condições. Certamente, alguém poderia dizer: «Mas, padre, não, eu gostaria, mas tenho dentro tantas coisas más!». A este propósito, é clara a resposta de Francisco: «É melhor! Melhor! Porque ele espera por ti, tal como és, não como te dizem que “se deve fazer”. Deve-se ser como tu és. Ele ama-te assim, para te abraçar, beijar, perdoar».

Eis portanto a exortação conclusiva do Papa, que convidou a ir ter com o Senhor sem hesitações e dizer: «Senhor, tu bem sabes que te amo». Ou então, se «não tenho coragem, dizer assim: “Senhor, tu bem sabes que eu gostaria de te amar, mas sou tão pecador, tão pecadora”». Com a certeza de que ele fará como o pai «com o filho pródigo que gastou todo o dinheiro nos vícios. Não te deixará acabar a conversa, com um abraço fará com que te cales: o abraço do amor de Deus».

 


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