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MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO
À CONFERÊNCIA SOBRE A "PACEM IN TERRIS"
POR OCASIÃO DOS 60 ANOS DA ENCÍCLICA DE SÃO JOÃO XXIII

 

A Sua Eminência o Cardeal
Peter K.A. Turkson
Chanceler da Pontifícia Academia
das Ciências Sociais

Saúdo-o calorosamente, bem como  todos os participantes na Conferência Internacional organizada pela Academia das Ciências Sociais e pelo Instituto de Pesquisa sobre a Paz de Oslo, para comemorar o 60º aniversário da publicação da Pacem in terris , a histórica encíclica do Papa João XXIII. A conferência é tanto mais oportuna quanto o nosso mundo continua a ser dominado por uma terceira guerra mundial, travada pouco a pouco e, no caso trágico do conflito na Ucrânia, não sem a ameaça de armas nucleares.

Na verdade, o momento atual tem uma inquietadora semelhança com o período imediatamente anterior à Pacem in terris  quando, em outubro de 1962, a Crise dos Mísseis de Cuba colocou o mundo à beira da destruição nuclear generalizada. Infelizmente, nos anos que se seguiram a essa ameaça apocalítica, não só o número e o poder das armas nucleares aumentaram, mas também foram incrementadas outras tecnologias bélicas, e está em perigo até o consenso de longa data sobre a proibição de armas químicas e biológicas. Hoje, mais do que nunca, devemos ouvir a advertência profética do Papa João de que, à luz da terrível força destrutiva das armas modernas, é ainda mais evidente que “as relações entre os Estados, como entre os indivíduos, devem ser reguladas não pela força armada, mas segundo os princípios da reta razão: isto é, os princípios da verdade, da justiça e da cooperação vigorosa e sincera”.

A este respeito, é muito apropriado que esta Conferência dedique as suas reflexões às partes da PPacem in terris que abordam o desarmamento e as vias para uma paz duradoura. Espero que as vossas deliberações, para além de analisarem as atuais ameaças militares e tecnológicas à paz, incluam uma reflexão ética disciplinada sobre os graves riscos associados à posse contínua de armas nucleares, a necessidade urgente de novos progressos no desarmamento e o desenvolvimento de iniciativas para a construção da paz. Declarei noutras ocasiões a minha convicção de que «a utilização da energia atómica para fins bélicos é imoral, tal como é imoral a posse de armas nucleares» (Discurso no Memorial da Paz de Hiroshima , 24 de novembro de 2019). É responsabilidade de todos nós manter viva a visão de que «um mundo livre de armas nucleares é possível e necessário» (Discurso ao Corpo Diplomático , 10 de janeiro de 2022).  Neste caso, continua a ser crucial o trabalho das Nações Unidas e das organizações afins na sensibilização da opinião pública e na promoção de medidas regulamentares adequadas.

Do mesmo modo, a preocupação com as implicações morais da guerra nuclear não deve ofuscar as questões éticas cada vez mais urgentes suscitadas pela utilização, na guerra contemporânea, das chamadas “armas convencionais”, que só deveriam ser utilizadas para fins defensivos e não dirigidas contra alvos civis. Espero que uma reflexão aprofundada sobre esta questão conduza a um consenso de que tais armas, com o seu imenso poder destrutivo, não sejam empregues de forma a causar “lesões supérfluas ou sofrimentos inúteis”, para usar as palavras da Declaração de São Petersburgo. Os princípios humanitários que inspiraram estas palavras, fundados na tradição do ius gentium , permanecem tão válidos hoje como quando foram escritos pela primeira vez, há mais de cento e cinquenta anos.

Consciente dos importantes temas em debate na Conferência, exprimo o meu apreço aos oradores e participantes. Repito de bom grado o desejo de oração expresso pelo Papa João na conclusão da sua Encíclica, para que «pela força e inspiração de Deus, todos os povos se abracem como irmãos e irmãs, e a paz por que anseiam floresça e reine sempre entre eles». A todos envio a minha bênção.

Do Vaticano, 12 de setembro de 2023

Francisco



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