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VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE
À NIGÉRIA, BENIN, GABÃO E GUINÉ EQUATORIAL
12-19 DE FEVEREIRO DE 1982

SOLENE ORDENAÇÃO SACERDOTAL DE 92 DIÁCONOS NIGERIANOS

HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II

Kaduna, Nigéria
Domingo, 14 de Fevereiro de 1982

 

Caros irmãos e irmãs em Cristo

Este é o dia que o Senhor fez, exultemos e alegremo-nos nele.

1. É verdadeiramente uma alegria estar em Kaduna hoje. Agradeço a Deus esta abençoada oportunidade de celebrar a Eucaristia com todos vós e de ordenar para o sacerdócio de Nosso Senhor Jesus Cristo este grande número de diáconos de diferentes dioceses da Nigéria. As vidas dos que serão ordenados oferecem notável garantia para o crescimento continuado da Igreja nesta amada terra e dão novas forças ao trabalho vital da evangelização. Com todos os fiéis da Nigéria, e com a Igreja universal, louvo o Senhor do céu que vai mandando estes novos trabalhadores para a Sua messe.

2. Neste alegre dia permiti-me dirigir as minhas palavras de modo especial àqueles que vão ser em breve ordenados.

Meus irmãos, cada um de vós recebeu do Senhor o chamamento para ser sacerdote e, com ele, o privilégio de ser chamado servo de Jesus Cristo. A ordenação confere a autoridade e o mandato de proclamar o Evangelho e de pregar em nome da Igreja. Como sacerdotes vós deveis presidir à celebração da Eucaristia, e em nome de Cristo deveis perdoar os pecados no Sacramento da Penitência. Nestas e em muitas outras actividades pelas quais dareis à Igreja de Deus um zelo pastoral, procurai sempre aparecer como quem serve. Oxalá as palavras da Segunda Oração Eucarística exprimam o vosso constante reconhecimento pela vossa vocação: "Pai, nós vos damos graças por nos admitirdes à Vossa presença e por Vos servir".

Fostes chamados a imitar o Senhor e Mestre que amais, a seguir o exemplo do Filho do Homem que "não veio para ser servido mas para servir, e dar a Sua vida pelo resgate de muitos" (Mt 20, 28). Lembrai-vos também que Jesus explicou aos Seus discípulos que eles não haveriam de dominar nunca sobre os seus companheiros ou de procurar tornar sentida a sua autoridade. Como São Paulo, nós consideramos privilégio ser chamados servos de Cristo Jesus (cf. Rom 1,1).

3. Uma das mais notáveis características da vida terrena de Jesus foi a prioridade que deu à oração. São Lucas diz-nos que "se juntavam grandes multidões para O ouvir e para que as curasse dos seus males, mas Ele retirava-se para lugares solitários e entregava-se à oração" (Lc 5, 15-16). Quando sentia grande compaixão pela gente e zelo abrasador para anunciar que o Reino de Deus estava perto, então Jesus não deixava de encontrar, com regularidade e frequência, um lugar sossegado para estar sozinho com o Seu Pai do céu. Por vezes passava mesmo a noite inteira em oração.

O autor da Carta aos Hebreus fala-nos da intensidade da oração de Jesus: "Quando vivia na terra, ofereceu com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas" (Heb 5, 7). Com todo o Seu coração e a Sua alma Jesus invocou o Seu Pai a fim de remediar as necessidades do povo, e procurou esforçar-se por conformar as Suas acções humanas com a vontade do Pai.

Meus irmãos, não devemos nunca esquecer esta lição que o nosso Salvador nos deixou pela palavra e pelo exemplo. A oração é factor vital da vida cristã, e é uma das principais maneiras como um sacerdote serve o seu povo. É também por meio da oração que preservamos e aprofundamos o nosso amor pessoal a Cristo, e chegamos a ver e a aceitar a vontade de Deus a nosso respeito. O tempo despendido na oração não é tempo tirado ao nosso povo. É tempo gasto em favor dele com o Senhor, que é a fonte de todo o bem. Eis a razão por que a Igreja não hesita em mandar aos seus ministros ordenados que rezem a Liturgia das Horas. Sede sempre fiéis a esta obrigação, porque a Liturgia das Horas nos une com a Igreja através do mundo no grande trabalho de louvar e adorar o Deus vivo.

4. A Carta aos Hebreus ensina-nos também que o nosso Senhor e Mestre, durante a vida na terra, "aprendeu a obedecer sofrendo" (Heb 5, 8). Sofrer é parte imprescindível para ser discípulo. Por isso é que Jesus disse aos Seus discípulos: "Quem não tomar a sua cruz para vir após Mim, não pode ser Meu discípulo" (Lc 14, 27). Não é esquecer ou não descobrir o facto de a fé em Cristo ser a fonte da alegria profunda (cf. Jo 15, 11), e de Jesus ter prometido aos discípulos uma paz que o mundo não pode dar (cf. Jo 14, 27). Mas continua a ser verdade que o sofrimento deve ser parte do serviço de Cristo. E sofrer está de perto ligado com a obediência, pois quando aceitamos o sofrimento, que a divina providência concede, vamo-nos conformando mais perfeitamente à vontade do Pai do céu.

Hoje prometeis não só a mim, mas também ao vosso respectivo Bispo, obediência e respeito. Por esta promessa estabeleceis especial laço de confiança com o vosso Bispo e com os seus sucessores. Declarastes que iríeis cooperar com ele e pôr em execução as suas directrizes e ordens para o bem da Igreja local, num espírito de amor e respeito. Deste modo, estais a imitar a Cristo, que veio, não fazer a Sua própria vontade, mas a vontade de quem O enviou (cf. Jo 6, 38). Lembrai-vos que a vossa salvação foi levada a termo por meio da obra salvadora do Filho de Deus que se despojou a si mesmo, tomou a condição de servo e se fez obediente até à morte (cf. Fil 2, 7-9).

5. A primeira leitura da Missa de hoje contém uma descrição do ministério que Jesus exerceu por si mesmo no princípio da sua vida pública (cf. Lc 4, 16 ss.), o qual deve cada sacerdote fazer seu próprio, qualquer que seja o número de anos a contar da sua ordenação: "O espírito do Senhor repousa sobre mim, porque o Senhor me ungiu. Enviou-me a levar a boa nova aos humildes, a curar os de coração despedaçado, a anunciar a redenção aos cativos, e a liberdade aos prisioneiros" (Is 61, 1).

Comunicação de que os ungidos do Senhor são enviados aos pobres, aos prisioneiros e àqueles cujos corações estão despedaçados. Por outras palavras, os ungidos por Deus são enviados às pessoas que se encontrem em especial necessidade da misericórdia de Deus. Esta a razão por que escrevi na minha Carta Encíclica Dives in Misericordia: "A Igreja deve dar testemunho da misericórdia de Deus revelada em Cristo, no conjunto da Sua missão como Messias, professando-a em primeiro lugar como verdade salvadora da fé e como necessária para a vida em harmonia com a fé, e depois procurando introduzi-la e encarná-la nas vidas não só dos seus fiéis mas também, quanto possível, nas vidas de toda a gente de boa vontade" (n. 12).

Como sacerdotes, tendes singular oportunidade e responsabilidade para anunciar a misericórdia de Deus. Pela vossa suavidade e compaixão como pastores, mostrais a ternura de Cristo; por meio da vossa pregação zelosa e do vosso ensino, proclamais a bondade de Deus e falais do Seu poder salvador. Como ministros dos sacramentos, especialmente da Eucaristia e da Reconciliação, pondes as almas em contacto com Nosso Senhor, que é rico em misericórdia.

6. Neste alegre dia não posso deixar de dizer uma palavra a respeito da grande necessidade de vocações para a vida religiosa e para o sacerdócio. Na verdade, as palavras do nosso Salvador fazem-nos reflectir: "A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao Senhor da messe que envie trabalhadores para a Sua messe" (Mt 9, 37). Quando nos alegramos hoje com a ordenação destes novos sacerdotes, vemos nos corações deles, que se encontram tão ansiosos de servir, uma grande esperança para o futuro da Igreja.

Ao mesmo tempo, apelo para o Povo de Deus a fim de se atender à grande necessidade de fomentar vocações para o sacerdócio e a vida religiosa. Nosso Senhor Jesus Cristo não deixará de prover quanto à vida da Sua Igreja, mas pede as orações e a colaboração de cada pessoa. As famílias cristãs têm particular tarefa para desempenhar criando a atmosfera de fé em que uma vocação se pode desenvolver. E vós, os novos sacerdotes de hoje, atendei sempre à importância do vosso exemplo e ao alegre testemunho das vossas vidas no celibato.

Confio-vos hoje a Maria, Mãe de Deus. Esteja ela sempre perto de vós e vos mantenha continuamente no amor do seu Filho, o nosso Supremo Sacerdote Jesus Cristo.

 



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