CARTA DO PAPA JOÃO PAULO II
AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL
DOS BISPOS DO BRASIL
Senhores Cardeais
e queridos Irmãos no episcopado,
Pax vobis, alleluia!
1. Com esta simples e sugestiva saudação, familiar a Jesus Ressuscitado , e com o augúrio nela contido, quero abrir esta mensagem dirigida aos Senhores e, por seu intermédio, a toda a Igreja no Brasil.
Após os encontros individuais e coletivos de todos, e após o Encontro de um grupo representativo do Episcopado comigo e com os meus colaboradores na Cúria Romana, esta afirmação de presença quer ser a terceira etapa e o coroamento da Visita a ad limina, acontecimento eclesial que, por catorze meses, marcou a vida do Episcopado e da Igreja no Brasil. Nos moldes em que foi realizada, por iniciativa comum dos Senhores e minha, esta Visita ad limina foi um exercício altamente expressivo de autentica colegialidade afetiva e efetiva, harmoniosamente conjugada com o correlativo exercício do ministerium Petri. A caridade fraterna que nela reinou, unida à busca incessante da verdade, inspirou um diálogo não superficial mas profundo e coerente, diálogo que desejou ser, o tempo todo, instrumento daquela comunhão que, desde os primórdios da Igreja e ao longo de toda a sua história, mas de modo especial nos documentos do Concílio Ecuménico Vaticano II, aparece como elemento essencial na mesma Igreja de Jesus Cristo.
Certamente útil a cada um dos Senhores e à Conferência Episcopal que juntos constituem, a Visita ad limina assim realizada foi e continuará a ser um inestimável serviço à Igreja no Brasil e, por extensão, às outras Igrejas e à Igreja Universal; um serviço, ainda que indireto, à sociedade brasileira e, por extensão, a toda a família humana.
2. Seria supérfluo sublinhar que, pelos seus destinatários, pelo contexto em que se inscreve e pela sua temática, esta mensagem tem um cunho marcadamente eclesial: ela conclui um ato eclesial, como é a Visita ad limina; dirige-se a homens consagrados à Igreja como seus ministros e Pastores; e tocará pontos de considerável interesse para a vida e a missão da mesma Igreja.
Ela parte, portanto, de uma precisa percepção eclesiológica – a do Concílio Vaticano II – e, já por esta razão, responde a necessidades e anseios claramente sentidos. Pois não foram os Senhores mesmos que, nas diferentes etapas da Visita ad limina, deram forte ênfase à eclesiologia, afirmando explicitamente que no fundo dos problemas mais sérios, que enfrentam como Bispos, está uma questão eclesiológica e que a solução dos mesmos problemas passa forçosamente por uma justa e bem fundada concepção da Igreja?
Consciente disso, senti-me no dever de acentuar, em todos os nossos encontros, os traços fundamentais da verdadeira Igreja de Jesus Cristo, traços afirmados com a necessária clareza pelo Magistério ordinário e extraordinário da mesma Igreja – particularmente pelos documentos do Vaticano II – e pelo sensus fidelium.
A Igreja é, antes de tudo, um mistério – este é o primeiro traço –, resposta a um Desígnio amoroso e salvífico do Pai, prolongamento da missão do Verbo Encarnado, fruto da ação criadora do Espírito Santo. por isso, não pode ser definida e interpretada a partir de categorias puramente racionais (sócio-politicas ou outras), produto de um saber meramente humano. Faz parte do seu mistério ser: santa, embora feita de pecadores; peregrina, contemplativa na ação e ativa na contemplação; escatológica, primícias do Reino embora não sua plenitude e consumação; mutável nos seus acidentes e imutável no seu ser e na sua missão.
Tal missão – e é o segundo traço a frisar – é a de evangelizar, isto é, de prestar ao mundo o ministério da Salvação, mediante o dialogus salutis instaurado com ele . Essencialmente religioso, porque nasce de uma iniciativa de Deus e se finaliza no Absoluto de Deus, o ministerium salutis é ao mesmo tempo serviço ao homem – pessoa e sociedade – às suas necessidades espirituais e temporais, aos seus direitos fundamentais, à sua convivência humana e civil.
Pôr isso mesmo faz parte da missão da Igreja preocupar-se, de certo modo, das questões que envolvem o homem do berço ao túmulo, como são as sociais e sócio-políticas. Condições de justeza no exercício desta parte delicada da sua missão evangelizadora, são, entre outras: uma nítida distinção entre o que é função dos leigos, comprometidos por específica vocação e carisma nas tarefas temporais, e o que é função dos Pastores, formadores dos leigos para as suas tarefas; a consciência de que não cabe à Igreja como tal indicar soluções técnicas para os problemas temporais, mas iluminar a busca dessas soluções à luz da fé; uma práxis no campo sócio-político deve manter-se em indefectível coerência com o ensinamento constante do Magistério.
3. Neste sentido, a Igreja se encontra, no Brasil como em outras regiões, sobretudo na América Latina, diante de formidáveis desafios. Ela tem consciência de suas limitações e carências para enfrentá-los; mas não cessa de acreditar que, para isso, conta com a assistência do Espírito do Pai e de Jesus Cristo. Razão porque não perde jamais a Esperança teologal.
Alguns desses desafios são de ordem eclesial e de vários deles tratei, com a mais fraterna confiança, em minhas alocuções aos vários grupos dos Senhores vindos ad limina Apostolorum, encorajando-os a não perde-los de vista e a procurar, com decisão e paciência, as possíveis soluções. Refiro-me à escassez de sacerdotes, religiosos e agentes pastorais, à adequada formação dos futuros ministros ordenados, à ameaça à fé por parte de seitas fundamentalistas ou não cristas, à catequese, aos problemas que se abatem sobre a família e a juventude, ao perigo de eclesiologias distanciadas daquela que ensina o Concílio Vaticano II, etc. Volto a encorajá-los, queridos irmãos Bispos, com renovada segurança, apoiado em algumas convicções já antigas no meu animo, reforçadas agora pela mesma Visita ad limina:
– convicção de que este povo confiado por Deus ao pastoreio dos Senhores é habitado por uma autentica fome e sede de Deus, da Sua palavra, dos seus mistérios sacramentais, das verdades essenciais da fé, realidades que ele exprime, a seu modo, em sua piedade popular; nem faltam ao seu espírito visceralmente cristão e católico um profundo sentido do mistério da Cruz, uma grande devoção à Eucaristia, um grande amor filial à Mãe de Jesus, um sentimento de reverencia para com o Sucessor de Pedro, qualquer que seja a sua pessoa e o seu nome; isso é, como não me cansei de observar ao longo de minha peregrinação por este País, a grande forca de Igreja, fonte de conforto para os que a governam como Pastores; tal forca será ainda maior, se essas riquezas forem continuamente consolidadas por uma Liturgia viva e bem ordenada, por uma prática sacramental bem orientada, por uma acurada catequese, por uma imensa atenção às vocações, que certamente hão-de surgir;
– a convicção de que, apesar das mencionadas carências, este povo conserva, por graça de Deus, as sementes do Evangelho, lançadas desde os primórdios da evangelização por devotados e denodados missionários; a obra desses apóstolos não se eclipsa nem mesmo no momento em que a Igreja neste País prossegue no afã de ter sua fisionomia própria, de contar com seus próprios recursos e até de estender a mão a Igrejas mais necessitadas;
– convicção de que os Senhores e seus colaboradores natos no serviço pastoral dão, aos olhos da Igreja Universal e do mundo, o testemunho de serem Pastores extraordinariamente próximos à sua gente, solidários na alegria e na dor, prontos a educar na fé e a aprimorar sua vida crista, como a socorrer nas necessidades e a compartilhar suas aflições e esforços, a infundir esperança.
Neste terreno, é mais do que justo exprimir gratidão sincera a inúmeros Bispos e sacerdotes, religiosos e religiosas, pessoas consagradas e leigos engajados que, em toda a história desta Igreja – mas refiro-me de modo especial aos tempos mais recentes – deram prova de admirável zelo apostólico, de abnegação e espírito de sacrifício, de extremado amor à sua gente, de incomparável capacidade de servir desinteressadamente. Que continuem numerosos, e que aumentem ainda, esses ministros segundo o Coração de Cristo Sacerdote e Bom Pastor, e esses colaboradores é a graça maior que Deus pode conceder a uma Igreja. E que, para isso, se aprimore constantemente a formação permanente dos ministros já ordenados; a cuidadosa preparação, nos seminários, dos candidatos ao presbiterato; o tirocínio dos diáconos permanentes; a formação dos jovens candidatos e candidatas à vida consagrada à luz da visão proposta pela Igreja; a formação humana, espiritual e apostólica dos leigos dispostos a servir ao Evangelho.
Outros desafios são de natureza cultural, sócio-politica ou económica e se revelam particularmente interpeladores e estimulantes no momento histórico que o País está vivendo. É, globalmente falando, o desafio do contraste entre dois Brasis: um, altamente desenvolvido, pujante, lançado rumo ao progresso e à opulência: outro, que se reflete em desmesuradas zonas de pobreza, de doença, de analfabetismo, de marginalização. Ora, este contraste penaliza com seus tremendos desequilíbrios e desigualdades grandes massas populares condenadas a toda sorte de misérias.
Problemas graves como estes não podem ser estranhos à Igreja, ao menos pêlos aspectos éticos que eles comportam, como causa ou como efeito das situações materiais. Mas, também neste terreno, a Igreja conduzida pêlos Senhores, Bispos no Brasil, dá mostra de estar com este povo, especialmente com os pobres e sofredores, com os pequenos e os desassistidos, a quem, ela consagra um amor, não exclusivo nem excludente, mas preferencial. Porque ela não hesita em defender com intrepidez a justa e nobre causa dos direitos humanos e em apoiar reformas corajosas, em vista da melhor distribuição dos bens, inclusive da terra, em vista da educação, da saúde, da habitação etc., ela goza da estima e da confiança de amplos setores da sociedade brasileira.
Bem conscientes de que não podem abdicar de sua especifica missão episcopal para assumir tarefas temporais, os Senhores lamentam, por outro lado, a inquietante escassez de leigos devidamente preparados para assumir esses últimos desafios. Mas sei que posso manter vivo o apelo que tive ocasião de reiterar no correr da Visita ad limina, para que uma prioridade importante e inadiável na ação dos Senhores seja a de formar leigos, quer entre os “construtores da sociedade pluralista” , quer entre as massas populares, quer nos ambientes operários e rurais, quer entre os jovens, sempre em vista da sua presença atuante nas tarefas temporais. Formar leigos significa favorecer-lhes a aquisição de verdadeira competência e habilitação no campo em que devem atuar; mas significa, sobretudo, educá-los na fé e no conhecimento da doutrina da Igreja naquele mesmo campo.
4. É no contexto dessa realidade humana e eclesial, com seus desafios, que os Senhores são chamados a ser Pastores no Brasil, hoje. Tarefa imensa. Tarefa provocadora e fascinante. Tarefa possível, com a ajuda de Deus.
Inspirando-me no rico e fecundo ensinamento do Concilio Vaticano II, mais de uma vez procurei definir essa tarefa. Eu o fiz, de modo especial, no discurso que lhes dirigi em Fortaleza, no momento culminante da minha inolvidável viagem ao Brasil. Quis faze-lo também, em momentos sucessivos, nos nove discursos dirigidos aos grupos regionais vindos em Visita ad limina.
Nessa tarefa – que deriva de um misterioso chamado de Deus, responde a uma missão dada por Deus e se apoia sobre a graça de Deus conferida pelo sacramento da Ordem – não podem faltar, devidamente aplicados às condições concretas da realidade humana e eclesial brasileira, alguns aspectos essenciais.
Deus nosso Pai e Jesus Cristo nosso Senhor esperam, espera a Igreja no Brasil com seus presbíteros, seus religiosos e religiosas e pessoas consagradas, e seus leigos de todas as condições, espera, em certa medida, todo o povo brasileiro que cada um dos seus Bispos seja:
– convicto e convincente proclamador da Palavra de Deus e, por isso mesmo, educador na fé, servo e mestre da Verdade revelada, especialmente da verdade sobre Cristo, sobre a Igreja e sobre o homem;
– edificador da Comunidade eclesial e ao mesmo tempo sinal e princípio visível da continuada comunhão que deve ser a alma dessa Comunidade, sobretudo em meio a fermentos de divisão e perigos de ruptura, conflitos e ameaças de dilacerações;
– exemplo de verdadeira unidade com seus irmãos sacerdotes e com seus fiéis no seio da Igreja Particular; com seus irmãos Bispos no seio da Conferencia Episcopal e na Igreja Universal; com o Sucessor do Apóstolo Pedro e com seu ministério a serviço da catolicidade;
– “perfector” de seus sacerdotes e pessoas consagradas, pelo seu ensinamento e pelo testemunho da sua vida, e dispensador dos mistérios de santificação, através dos sacramentos, para todos os fiéis, sem discriminação;
– pastor e guia do povo a ele confiado, pêlos caminhos da vida e em meio às realidades deste mundo, rumo à Salvação;
– pai espiritual para todos, especialmente para os mais necessitados de orientação e ajuda, de defesa e protecção.
5. Tendo diante dos olhos essas indeclináveis exigências do seu serviço episcopal, os Senhores tem-se esforçado, sobretudo nos últimos anos, por encontrar respostas justas aos desafios acima referidos, sempre presentes, eles também, ao seu espírito. A Santa Sé não tem deixado de acompanhá-los nestes esforços, como faz com todas as Igrejas. Manifestação e prova da atenção com que compartilha esses esforços, são os numerosos documentos publicados ultimamente, entre os quais as duas recentes Instruções emanadas pela Congregação para a Doutrina da Fé, com a minha explícita aprovação: uma, sobre alguns aspectos da teologia da libertação ; outra, sobre a liberdade crista e a libertação . Estas últimas, endereçadas à Igreja Universal, tem, para o Brasil, uma inegável relevância pastoral.
Na medida em que se empenha por encontrar aquelas respostas justas – penetradas de compreensão para com a rica experiência da Igreja neste País, tão eficazes e construtivas quanto possível e ao mesmo tempo consonantes e coerentes com os ensinamentos do Evangelho, da Tradição viva e do perene Magistério da Igreja – estamos convencidos, nós e os Senhores, de que a teologia da libertação é não só oportuna mas útil e necessária. Ela deve constituir uma nova etapa – em estreita conexão com as anteriores – daquela reflexão teológica iniciada com a Tradição apostólica e continuada com os grandes Padres e Doutores, com o Magistério ordinário e extraordinário e, na época mais recente, com o rico património da Doutrina Social da Igreja, expressa em documentos que vão da Rerum Novarum à Laborem Exercens.
Penso que, neste campo, a Igreja no Brasil possa desempenhar um papel importante e delicado ao mesmo tempo: o de criar espaço e condições para que se desenvolva, em perfeita sintonia com a fecunda doutrina contida nas duas citadas Instruções, uma reflexão teológica plenamente aderente ao constante ensinamento da Igreja em matéria social e, ao mesmo tempo, apta a inspirar uma práxis eficaz em favor da justiça social e da equidade, da salvaguarda dos direitos humanos, da construção de uma sociedade humana baseada na fraternidade e na concórdia, na verdade e na caridade. Deste modo se poderia romper a pretensa fatalidade dos sistemas – incapazes, um e outro de assegurar a libertação trazida por Jesus Cristo – o capitalismo desenfreado e o coletivismo ou capitalismo de Estado . Tal papel, se cumprido, será certamente um serviço que a Igreja pode prestar ao País e ao quase Continente latino-americano, como também a muitas outras regiões do mundo onde os mesmos desafios se apresentam com análoga gravidade.
Para cumprir esse papel é insubstituível a ação sábia e corajosa dos pastores, isto é, dos Senhores. Deus os ajude a velar incessantemente para que aquela correta e necessária teologia da libertação se desenvolva no Brasil e na América Latina, de modo homogéneo e não heterogéneo com relação à teologia de todos os tempos, em plena fidelidade à doutrina da Igreja, atenta a um amor preferencial não excludente nem exclusivo para com os pobres.
6. Neste ponto é indispensável ter presente a importante reflexão da Instrução Libertatis Conscientia sobre as duas dimensões constitutivas da libertação na sua concepção cristã: quer no nível da reflexão quer na sua práxis, a libertação é, antes de tudo, soteriológica (um aspecto da Salvação realizada por Jesus Cristo, Filho de Deus) e depois ético-social (ou ético-política). Reduzir uma dimensão à outra – suprimindo-as praticamente a ambas – ou antepor a segunda à primeira é subverter e desnaturar a verdadeira libertação crista
É dever dos Pastores, portanto, anunciar a todos os homens, sem ambiguidades, o mistério da libertação que se encerra na Cruz e na Ressurreição de Cristo. A Igreja de Jesus, nos nossos dias como em todos os tempos, no Brasil como em qualquer parte do mundo, conhece uma só sabedoria e uma só potência: a da Cruz que leva à Ressurreição . Os pobres deste País, que tem nos Senhores os seus Pastores, os pobres deste Continente são os primeiros a sentir urgente necessidade deste evangelho da libertação radical e integral. Sonegá-lo seria defraudá-los e desiludi-los.
Pôr outro lado, os Senhores – e com os Senhores toda a Igreja no Brasil – mostram-se prontos a empreender em seu setor próprio e na linha do próprio carisma, tudo aquilo que deriva, como consequência, da libertação soteriológica. É, aliás, o que a Igreja, desde os seus albores, sempre procurou fazer por meio de seus santos, seus mestres e seus pastores e por meio de seus fiéis engajados nas realidades temporais.
Permitam-me Irmãos no episcopado, que, com plena confiança, os convide a uma tarefa menos visível mas de alta relevância, além de profundamente conexa com nossa função episcopal: a de educar para a libertação, educando para a liberdade . Educar para a liberdade é infundir os critérios sem os quais essa liberdade se tornaria uma quimera, se não uma perigosa contrafaço. 12 ajudar a reconquistar a liberdade perdida ou a curar a liberdade, quando adulterada ou corrompida. Educadores na fé, como nos chama o Concílio Vaticano II, nossa tarefa consistirá também em educar para a liberdade.
7. Entrego agora esta mensagem às mãos do meu estimado irmão Cardeal Bernardin Gantin, Prefeito da Congregação que, na Cúria Romana, se dedica, com exemplar disponibilidade, a assistir todos os Bispos em seu ministério às Igrejas e a colaborar com o Bispo de Roma na sua função de “confirmar os irmãos”. Convidado pêlos Senhores a animar um dia de retiro espiritual, no quadro da Assembleia Geral desta Conferencia Episcopal, ele terá a bondade de dizer-lhes, de viva voz e com o calor da sua presença, com o calor da sua presença, com que sentimentos de sincero apreço e fraternidade foi escrita esta mensagem; aqueles mesmos sentimentos que, de minha parte, inspiraram e animaram os encontros havidos durante a Visita ad limina.
Evocando ainda, em meu animo, aqueles encontros, de modo especial o Encontro de 13 a 15 de março p. p., com alguns dos Senhores, vem-me espontâneo o sentimento de ter com os Senhores uma nova e mais profunda forma de colegialidade: após esta Visita ad limina, o Papa e seus colaboradores certamente conhecem melhor estas realidades que são a Igreja no Brasil e seu episcopado. Eles esperam terem-se tornado também mais e melhor conhecidos.
Desejo permanecer em constante contacto com os Senhores e participar, in vinculo fraternitatis, de todas as importantes e exigentes tarefas do seu pastoreio; em contacto, especialmente, quando essas tarefas pesarem um pouco mais sobre os seus ombros.
Rogo, por minha vez, sua oração por mim, especialmente na Eucaristia, para que o nome de servus servorum Dei, dado por São Gregório Magno à missão Pontifical, seja em mim uma verdade.
Na pessoa do mesmo Cardeal Gantin quero estar reunido com os Senhores aos pés de Nossa Senhora Aparecida. Sejamos todos juntos, em torno da Mãe do Sumo Sacerdote Jesus Cristo, a imagem dos Apóstolos, dos quais somos Sucessores, congregados com Maria na expectativa do dom do Espírito da verdade e da caridade. Que este Espírito os faca vigilantes Pastores das queridas Comunidades eclesiais do Brasil e ministros de Salvação para toda a comunidade humana brasileira.
Ao termo desta mensagem e em conclusão da memorável Visita ad limina, resta-me, diletos irmãos Bispos, transmitir-lhes, como com prazer o faço, a Bênção Apostólica, penhor das bênçãos divinas que imploro para suas pessoas e seu ministério episcopal. Queiram, por sua vez, comunicá-la a toda a Igreja no Brasil, destinatária também desta mensagem: aos sacerdotes, cooperadores da ordem episcopal; aos diáconos permanentes, numerosos, dedicados, atuantes em várias das dioceses dos Senhores; aos seminaristas no momento decisivo de seu itinerário rumo ao presbiterato; a todas as pessoas consagradas, sejam essas entregues à oração, ao silencio e à penitencia, ou dedicadas à educação, ao serviço dos doentes e dos pobres ou à multiforme obra de evangelização; aos leigos engajados nos movimentos e associações, nas comunidades eclesiais de base, nos ministérios extraordinários e nos mais diversificados serviços à Igreja; aos leigos engajados, como filhos da Igreja e em nome da sua fé, nas tarefas temporais; aos leigos que, por algum motivo, estão pouco empenhados, para que se sintam estimulados a tomar seu lugar na Igreja e no mundo; aos afastados, para que voltem à prática da sua vida crista e católica; aos que duvidam e procuram o caminho, para que não lhes faltem a luz e a forca; aos jovens e às crianças, tão numerosos em seu País e tão merecedores de solicitude, porque são a esperança e o futuro desta Nação e da Igreja e porque se defrontam com tantos problemas e ameaças; a todos, enfim, especialmente aos pobres, aos que sofrem e choram, para que Deus seja tudo em todos.
Vaticano, 9 de abril de 1986.
IOANNES PAULUS PP. II
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