DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AOS ALUNOS E PROFESSORES
DO CURSO DO COLÉGIO DE DEFESA DA NATO
2 de Fevereiro de 1981
Caros Amigos
É-me grato receber aqui os membros do Colégio de Defesa da NATO com as suas famílias. Soube que nos seis meses passados estivestes ocupados num programa educativo, estudando os objectivos culturais e morais com o propósito de consolidar a solidariedade internacional. Aprecio a importância deste empreendimento por o seu objectivo último ser a promoção da paz no mundo.
Como sabeis, tenho falado muitas vezes sobre o meu grande interesse pela paz. Estou convencido de que, com a ajuda de Deus, a obtenção da paz para todos os povos e entre todas as nações está ao alcance da capacidade humana. Embora uma verdadeira paz não raro iluda a nossa compreensão precisamente porque a vemos mais como uma moldura a ser imposta de fora, do que como um processo a ser cultivado de dentro. A paz exprime uma realidade dinâmica que tem o fundamento numa harmoniosa relação de pessoas, de tal modo que requer os nossos contínuos esforços. Para alcançar a paz definitiva, devemos primeiro estudar os seus componentes e isto requererá uma investigação dos perigos que ameaçam a paz.
Na minha recente Encíclica indiquei que as primeiras entre as ameaças da paz eram não só os arsenais das armas atómicas, mas uma manipulação da própria noção de paz para os objectivos interessados de parte. A este propósito dizia: "Os meios técnicos à disposição da civilização dos nossos dias encerram, de facto, não apenas a possibilidade de uma autodestruição mediante um conflito militar, mas também a possibilidade de uma sujeição 'pacífica' dos indivíduos, dos âmbitos de vida, de inteiras sociedades e de nações que, seja por que motivos for, se apresentem incómodos para aqueles que dispõem dos relativos meios e estão prontos para servir-se deles sem escrúpulos. Pense-se ainda na tortura que continua a existir no mundo, adoptada sistematicamente por Autoridades, como instrumento de dominação ou de opressão política, e praticada impunemente por subalternos" (Dives in Misericordia, 11).
Por conseguinte, não pode haver paz onde a dignidade da pessoa humana é desprezada. Onde quer que encontramos o domínio de uma pessoa sobre a outra na opção desta pelo seu destino ou pelo legítimo acesso à verdade, ali já descobriremos as sementes de um amargo ressentimento ou profunda animosidade. Sim, garantir a paz é trabalho essencial da obra pela paz. por isso que eu escolhi como tema para o Dia Mundial da Paz: "Para servir a paz, respeita a liberdade".
Durante estes meses passados, estudastes em Roma as complexidades da paz mundial e adquiristes aumentada consciência no que diz respeito â obtenção da mesma. As vossas investigações colocam-vos agora entre aqueles homens e mulheres para os quais os outros olharão como guias neste campo.
Peço que a vossa visão da dignidade humana nunca desfaleça em vós ao lutardes pela paz. Oxalá contribuais para que a construção da paz seja sempre um apelo para o que há de mais nobre no coração de cada pessoa.
E oxalá esta paz que reflecte a verdadeira bondade do próprio Deus encha os vossos corações e os vossos lares, encorajando-vos a serdes incansáveis trabalhadores pela causa da paz.
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