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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AO ARCEBISPO DE CANTUÁRIA (INGLATERRA)
E PRIMAZ DA COMUNHÃO ANGLICANA

4 de Outubro de 2003

 

 

Sua Graça Reverendíssima
Rowan Williams
Arcebispo de Cantuária

É com grande prazer que lhe dou as boas-vindas aqui, por ocasião desta sua primeira visita à Sé Apostólica como Arcebispo de Cantuária. Vossa Graça dá continuidade à tradição que teve início um pouco antes do Concílio Vaticano II, com a visita do Arcebispo Geoffrey Fisher, e é o quarto Arcebispo de Cantuária que tenho o prazer de receber durante o meu Pontificado. Também conservo uma lembrança viva da visita que realizei a Cantuária em 1982, bem como da emocionante experiência de oração junto do túmulo de S. Tomás Becket, em companhia do Arcebispo Robert Runcie.

Os quatro séculos que se seguiram à triste divisão entre nós durante os quais houve poucos contactos, ou quase nenhum, entre os nossos predecessores abriram caminho a um período de encontros cheios de graça entre o Bispo de Roma, Sucessor de Pedro, e o Arcebispo de Cantuária. Tais encontros procuraram renovar os vínculos entre a Sé de Cantuária e a Sé Apostólica, que têm as suas origens no envio, por parte do Papa Gregório o Grande, de Santo Agostinho, primeiro Arcebispo de Cantuária, aos Reinos anglo-saxões no final do século VI. Actualmente, estes encontros têm dado expressão à nossa antecipação da plena comunhão, que o Espírito Santo deseja e espera de nós.

Ao agradecermos o progresso que já se alcançou, devemos também reconhecer que novas e sérias dificuldades se têm manifestado ao longo do caminho rumo à unidade. Estas dificuldades não são de uma natureza meramente disciplinar; algumas delas dizem respeito a questões essenciais de fé e de moral. Nesta perspectiva, devemos confirmar obrigação que temos de escutar com atenção e honestidade a voz de Cristo, que chega até nós através do Evangelho e da Tradição Apostólica da Igreja. Perante o crescente secularismo do mundo contemporâneo, a Igreja deve assegurar que o depósito de fé seja proclamado na sua integridade e preservado contra interpretações erróneas e desvirtuadas.

Quando o nosso diálogo teológico começou, os nossos predecessores, o Papa Paulo VI e o Arcebispo Michael Ramsey, não podiam imaginar o percurso exacto ou a duração do caminho rumo à plena comunhão, mas sabiam que ela exigiria paciência e perseverança, e que só chegaria como dom do Espírito Santo. O diálogo a que eles deram início devia "fundamentar-se nos Evangelhos e nas antigas tradições conjuntas"; devia ser abordado com a promoção de uma colaboração que "levasse a uma maior compreensão e a uma caridade mais profunda"; então, expressou-se a esperança de que, mediante este progresso rumo à unidade, houvesse "um fortalecimento da paz no mundo, da paz que só Ele pode dar, porque Ele "concede a paz que ultrapassa toda a compreensão"" (Declaração conjunta, 1966).

Devemos continuar a edificar sobre o trabalho já levado a cabo pela Comissão Internacional entre Anglicanos e Católico-Romanos (ARCIC) e sobre as iniciativas da Comissão Conjunta para a Unidade e a Missão (IARCCUM), recentemente fundada. O mundo tem necessidade do testemunho da nossa unidade, enraizada no nosso amor conjunto e na obediência a Cristo e ao seu Evangelho. É a fidelidade a Cristo que nos impele a dar continuidade à procura da plena unidade visível e a encontrar caminhos apropriados para nos comprometermos, sempre que for possível, no testemunho e na missão conjuntos.

Estimo o facto de Vossa Graça ter desejado visitar-me mesmo no início do seu ministério como Arcebispo de Cantuária. Compartilhamos o desejo de aprofundar a nossa comunhão. Rezo por uma renovada abundância de bênçãos do Espírito Santo sobre a sua pessoa e os seus entes queridos, sobre todos os componentes do Séquito que o acompanharam até aqui e sobre cada um dos membros da Comunhão Anglicana. Deus o proteja, vele sempre sobre Vossa Graça e o oriente no exercício das suas altas responsabilidades. Nesta festa de São Francisco de Assis, um apóstolo da paz e da reconciliação, rezemos em conjunto para que o Senhor faça de nós instrumentos da sua paz. Onde houver ofensa, que possamos levar o perdão; onde houver ódio, que possamos semear o amor; e onde houver desespero, que a nossa procura humilde da unidade possa instaurar a esperança.

 

 

 

 



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