DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AO SENHOR KINGSLEY SUNNY EBENYI
NOVO EMBAIXADOR DA NIGÉRIA
JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO
DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS*
27 de Maio de 2004
Senhor Embaixador
No momento em que Vossa Excelência chega ao Vaticano para a apresentação das Cartas Credenciais mediante as quais é nomeado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Federal da Nigéria junto da Santa Sé, transmito-lhe as minhas cordiais saudações de boas-vindas. A sua presença hoje aqui traz-me à mente não apenas a calorosa e entusiasmante hospitalidade que me foi reservada, durante as minhas Visitas Pastorais ao seu país em 1981 e em 1998, mas também a amável saudação do Presidente, Sua Excelência o Senhor Obasanjo, renova a memória do nosso feliz encontro realizado aqui no Vaticano, durante o Grande Jubileu do Ano 2000. Peço-lhe que transmita os meus melhores votos a Sua Excelência o Senhor Presidente, garantindo-lhe as minhas preces pelo bem-estar de toda a sua Nação.
É-me grato ouvir Vossa Excelência fazer referências ao compromisso do seu País em prol do bom governo e da consolidação da democracia. Com efeito, depois da realização da importante transição do sistema militar para uma forma de governo civil, o desafio que agora se lhe apresenta consiste em edificar e fortalecer a sua jovem democracia, aumentando a participação de todos os segmentos da população num ordenamento da vida pública que seja representativo e juridicamente salvaguardado. Uma exigência fundamental a este propósito é a necessidade do exercício transparente e confiável da autoridade política. A vida pública, tanto a nível nacional como internacional, deve orientar-se "pelos quatro requisitos do espírito humano: a verdade, a justiça, o amor e a liberdade" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2003, n. 3). Encorajo a Nigéria a comprometer-se cada vez mais neste corajoso empreendimento democrático, com um profundo sentido e espírito de serviço em favor do seu próprio povo.
Efectivamente, existe um vínculo inseparável entre a paz e a verdade, que deve ser reconhecido se os homens e as mulheres quiserem viver em liberdade, justiça e segurança. "A honestidade na difusão das informações, e igualdade nos sistemas legais e a abertura nos procedimentos democráticos oferecem aos cidadãos um sentido de segurança, a prontidão na resolução das controvérsias através de instrumentos pacíficos e a aspiração a um diálogo genuíno e construtivo; todas estas são as verdadeiras premissas para uma paz duradoura" (Ibid., n. 8). Quando as pessoas compreendem mais plenamente o significado e as consequências dos acontecimentos que se verificam nas suas próprias existências e no mundo em geral, elas ficam melhores preparadas para oferecer uma contribuição eficaz em favor da paz, especialmente através do uso próprio das estruturas e dos mecanismos sociais jurídicos, políticos e económicos em ordem ao serviço do bem comum.
Naturalmente, enquanto a República Federal se encontra em busca de uma estabilidade e unidade nacionais cada vez maiores ao longo do caminho da aumentada democratização da sociedade e das suas instituições, também não faltam os desafios. A coragem moral e a sabedoria política são necessárias, por exemplo, numa abordagem eficaz dos excessos de violência na região do Delta do Níger, das tensões políticas e étnicas na região Noroeste e dos problemas ligados à corrupção, à pobreza e às doenças. Só através de um compromisso decidido em vista de trabalhar incansável e constantemente pela causa da paz, pela salvaguarda da dignidade humana, pela defesa dos direitos humanos e pelo desenvolvimento integral de cada indivíduo, aqueles desafios poderão ser enfrentados, e preparado o caminho para aumentar a consciência acerca do destino e da interdependência comuns que unem todos os nigerianos, e na realidade todos os povos, como membros de uma única e grande família humana. Gradualmente, a Nigéria tem-se sobressaído como um país disposto a servir a causa da paz e do progresso, mediante instituições internacionais como a União Africana e a Organização das Nações Unidas. Encorajo os líderes nigerianos a permanecerem firmes na sua solidariedade para com as outras nações, a fim de que um mundo livre e justo possa tornar-se uma realidade.
No serviço para o bem da paz, que constitui inclusivamente o serviço à verdade, a religião tem um papel vital a desempenhar. Ela oferece a sua contribuição mais eficaz neste campo, concentrando-se nos elementos que lhe são próprios: "A atenção a Deus, a promoção da fraternidade universal e a difusão de uma cultura da solidariedade humana" (Ibid., n. 9). Pois bem, quando comunidades ou povos de diferentes convicções religiosas ou culturas vivem na mesma área, às vezes pode acontecer que se desenvolvam ou aumentem as tensões e que as mesmas, em virtude das fortes paixões envolvidas, se degenerem em conflitos violentos. Por este motivo, é de importância fundamental recordar que "o recurso à violência em nome de um credo religioso constitui uma deturpação dos próprios ensinamentos das principais religiões. Volto a afirmar aqui o que muitas figuras religiosas reiteraram com tanta frequência: o recurso à violência nunca pode ser reivindicado com uma justificação religiosa, nem pode fomentar o crescimento do verdadeiro sentimento religioso" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1999, n. 5).
A Igreja católica que se encontra na Nigéria está comprometida no progresso pacífico da nação, especialmente através da sua presença nos campos da educação, da assistência à saúde e dos seviços sociais. A garantia efectiva do direito à liberdade religiosa dará aos católicos a possibilidade de continuar a trabalhar pela prosperidade espiritual e material da sociedade. A este propósito, estou persuadido de que o Governo do Senhor Embaixador cumprirá o seu compromisso em ordem a resolver as dificuldades que estão a ser enfrentadas pelos agentes missionários estrangeiros em busca da renovação dos seus vistos. Formulo também votos ardentes para que as tensões entre as várias comunidades étnicas e religiosas, que atingem ao ponto da violência e até mesmo da morte nalgumas regiões do seu País, sejam resolvidas através de diálogo e esforços sinceros, orientados para a reconciliação e a compreensão e cooperação recíprocas.
Senhor Embaixador, estou certo de que a sua missão aqui contribuirá para revigorar os vínculos de amizade que já existem entre o seu País e a Santa Sé. No momento em que Vossa Excelência assume as suas novas responsabilidades, formulo-lhe os meus sinceros bons votos e asseguro-lhe que os diversos Departamentos da Cúria Romana estarão prontos para o ajudar no cumprimento dos seus deveres. Sobre o Senhor Embaixador e o amado povo da Nigéria, invoco cordialmente as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.
*L'Osservatore Romano n. 24 p. 10.
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